Corre-me nas veias este sangue empestado, esta vontade de sofrer.
Aqui é tudo negro e morto; ou então os sinais de vida são demasiado pequenos para aparecerem na grande imagem. Árvores altas a toda a volta, escuro - muito escuro -, friagens que correm entre os galhos onde pousam corujas que nos seguem com os olhos redondos como a lua, a noite toda, sem cessar, sem se sensibilizarem, sem se chocarem com o que quer que aconteça por cá...Os passos que damos, acelerados numa correria atormentada, são compassados pelo som de folhas que estalam e quebram sob os nossos pés; há sempre pares de íris incandescentes a espreitarem as nossas acções, ocultadas pela flora.
Não morremos simplesmente - morremo-nos aos poucos, descaindo a um nível lento, mas a uma profundidade assustadora. Temos os cabelos presos nas ramagens, somos sacudidos pelo vento nocturno, vivemos - falecemos, não sei... - somente quando o céu é negro. Os animais passam ágeis, ao longe, fogem os mais pequenos dos maiores...e nós ficamos.
Chego sozinha porque ninguém se atreve a acompanhar-me. Não é necessário publicitar a mata; quem tiver de estar aqui, aqui chegará por seus próprios comandos. Nunca precisei de arrastar ninguém, de dar a mão a um fugitivo para que não nos perdêssemos na fuga - já disse, ninguém me acompanha até à mata.
Temos todos olheiras a marcarem os nossos rostos, somos todos cansados, velhos antes do tempo, de roupas rasgadas e manchadas de terra. Andamos no chão, subimos às árvores, escondemo-nos em tocas.
Talvez os gritos e o choro sejam os sons mais constantes. Por vezes tremo, gemo, sinto o meu corpo aberto em cortes, os meus ossos enregelados, a morte tão perto de mim. Não poderia ser de outra forma, no momento em que abri os olhos, condenaram-me a viver perdida entre ramagens.
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