Chamo-te como se valesse a pena, como se viesses ao meu chamamento. Não vens, claro está.
A culpa foi minha, sabes? No fundo, foi como se te empurrasse para a perdição, para uma maldita viagem só de ida... E nunca eu me veria nestes termos, a falar numa viagem amaldiçoada, nada metafórica, real e mortal.
Ah, desenvolvi fobia a aviões - a aviões e a relógios. Na verdade, todo o conceito de tempo agora me enoja como se os Deuses me espetassem constantemente a lembrança de ti. Sabes que nem os Deuses culpei? Desta vez certifiquei-me de arcar com tudo sozinha; só posso lamentar o facto de não me terem levado contigo, de esperar e concordar que seria só um dia de atraso, que o voo não alteraria nada… - alterou absolutamente tudo. E agora são eternidades, eternidades que nos separam até que a morte nos junte.
Não me matou, é certo, mas por variadas vezes desejei que o fizesse: seria uma passagem gratuita com destino ao paraíso.
Vou aguentar, não por mim, mas pela tua imagem cravada na minha mente, pela ecografia que trago no bolso das calças e me recorda que não sou só eu. Estou feliz, é um pedaço de ti, mas não deixa de ser doloroso e cruel.
Até um dia, meu amor.


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Comentários:
assustei-me a ler isto, mas depois reparei na tag 'fictício'.
 
Que bonito.
 

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