Sou uma marioneta. O meu propósito é ser retirada do baú poeirento e ser usada; necessito que alguém segure e puxe as minhas cordas à sua vontade, para eu estar viva.
Sei bem o que é que significa actuar. Sei que quando deixar de dar lucro, me vão tornar a colocar dentro do baú e nunca mais quererão saber de mim...vão cortar-me as cordas e deixar-me inutilizada.
Podia cortá-las eu mesma e ganhar a minha liberdade, mas o problema é que eu não quero ser livre. A única coisa que quero - e quero-a de uma maneira desesperada - é que continuem a puxar por mim. Não me importa as consequências da minha burrice, só me importa o momento presente e, no momento presente, tudo o que sinto é uma agonia excessiva que me faz enrolar-me toda em torno das mãos que me seguram para ver se consigo impedir que elas me larguem. Bem sei que os meus esforços são inúteis, mas eu também sou bastante inútil e não consigo pensar no futuro.
Quando me deixam, sinto o vazio. Parte de mim foi destruída por tesouras enferrujadas e já não posso voltar a ser conduzida por ninguém.
É isso, sinto que sou uma marioneta que perdeu as cordas e que, portanto, já não pode ser usada. Falta-me um pedaço de mim e é bastante difícil conseguir continuar a olhar para as outras bonequinhas como se tivesse interesse nelas, quando raramente tenho - a culpa não é delas, é minha, porque não consigo que a minha possível atenção por elas seja nem a sombra do que era a atenção que recaía sobre a pessoa que me controlava.
Gosto muito de falar em independência, mas fecho-me a mim própria numa caixa sem qualquer hesitação.
Etiquetas: crenças, desordem da personalidade, dor
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