Fui ao cabeleireiro tratar do meu cabelo de barbie (aqueles fios de aspecto desgrenhado e seco que já não brilham, nem se deixam pentear) e eis que a cabeleireira decide fazer conversa de ocasião já que a minha boca estava trancada a cadeado, mas as minhas pálpebras teimava em mover-se em sentido descendente. Começou por confirmar se a escola que frequento é a mais próxima daqui, depois passou à questão das áreas - e eu suspeito que ela estivesse à espera que eu lhe respondesse que tinha chumbado e desistido dos estudos, já que o meu aspecto era o de uma sem-abrigo. Ou o de uma drogada, tendo em conta a cor da minha pele, a profundidade das minhas olheiras e a maneira como estava vestida.
Acontece que a mesma situação desagradável se repete desde antes mesmo de eu entrar para o secundário. Estou eu junto aos portões do básico e uma contínua pergunta: Então, vais para que área? Eu respondo que vou para Línguas e Humanidades e o sorriso da senhora é automaticamente desligado, porque eu sou tão esperta e podia ir para ciências...A cabeleireira ficou fixada na palavra "Línguas" e o erguer das sobrancelhas antecipou-se às palavras. Vais para o desemprego? Vou para o desemprego como vão os outros todos, respondi eu.
Irritou-me mais quando foi uma professora a inquirir onde ia eu encontrar trabalho estudando Humanidades, porque, sinceramente, esperava que uma professora não tivesse tala nos olhos, mas parece que sim. Sou capaz de encontrar trabalho onde encontram os elevados números de alunos de Ciências que seguem essa mesma área sem o mínimo conhecimento seja do que for e acabam chumbados, a terminar disciplinas ou com uma média ridícula.
Ora, qual foi o meu espanto ao encontrar o diploma de uma candidata (que seguiu Ciências) a empregada na loja onde trabalha a minha mãe (que seguiu Línguas e Humanidades); o meu espanto não foi, evidentemente, o facto dela ser letrada, mas sim o curso. Certifica-se que *inserir nome* se formou no curso de enfermagem. Enfermagem é Ciências, não é? E eu que pensava que Ciências era uma espécie de estrada para o sucesso...
Pergunto-me o que me diriam se eu respondesse que seguira Artes. Talvez rissem na minha cara, talvez pensassem que eu escolhera a área "mais fácil" por ser pouco apta - que é opinião de muitos ignorantes palradores.
Um facto curioso é que desporto também não é muito bem encarado, mas o jogador mais bem pago na hora da contratação é português e se é jogador trabalha, obviamente, na zona do desporto e um dos homens mais ricos do mundo é um génio da informática - aquela coisa para a qual ninguém dá muito crédito, porque quem estuda deve seguir as leis do facilitismo.
Vou terminar. Mas não se esqueçam meus filhos: a chave para o sucesso não está no talento, no empenho ou na inteligência, mas sim na área de Ciências e Tecnologias.
ps: Nada contra os estudantes da dita cuja.
Etiquetas: futuro, polegar para baixo
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