Hoje estou com a vontade irracional de te matar ou de bater até sangrar. Queria que fizesses o mesmo — Deus sabe que o Diabo morre lento e que rolares da cama dele não te torna
nele; então, morreria eu primeiro para poder passar a vassoura no chão, antes de chegares a casa. Deixar-te-ia tudo num brinco, esperar-te-ia de faca na mão. De certeza que mortos não se prendem a coisas tão banais como deixar de ter feridas, de certeza que ainda poderíamos abrir umas quantas juntos.
Hoje estou, portanto, com a vontade irracional de me ajoelhar. Não quero rezar, nem foder, nem fazer a peregrinação, mas quero implorar-te que tenhas a benevolência de me estrangular. Beija-me, enquanto o fizeres. Mas certifica-te de apertar em condições e não me faças esconder o pescoço em cachecóis; não, mata-me de uma vez.
Anda lá, mata-me logo! Estou a pedir-te com todas as letras. Ou então bate-me, faz qualquer coisa que doa, atira-me ao chão. Ficaste lento, ficaste mole, desististe de mim — não censuro —, por isso deixaste de ver graça em magoar-me. No presente, talvez possas reconhecer tão bem quanto eu que é muito mais cruel não me fazeres seja o que for e deixares-me a agoniar por teres sido só mais um que se foi. Vão todos, no final.
Queria tanto, tanto. Queria regar-me em gasolina e pedir-te que ateasses o fogo e ver-nos a arder os dois, pois se eu sou profana, tu és heresia pura.
Ah, tudo bem...deixa-me viver. Mantém o meu coração a bater cegamente, mas arranha-me outra vez, grita nos meus ouvidos, agita-me pelos ombros. Não uses os meus métodos, usa os teus, e assusta-me, debocha de mim, inquieta-me. Não precisas de cerrar o punho, se não for o teu estilo.
Compreendo-te. Para quê dares-te ao trabalho, se não há ninguém tão capaz de destruir-me como eu mesma? Então, espero que pelo menos tomes um dos lugares da frente e assistas, enquanto o meu corpo se desfaz em palco.
Etiquetas: ashtray heart, desordem da personalidade, ken
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