No meu primeiro dia de aulas foi o pai a levar-me à escola, o que significa que cheguei escoltada pela minha guarda de homens. Na verdade, um homem e dois pequerruchos que estavam destinados a sê-lo.
Lembro-me que o Karter me apertou os dedos antes de entrarmos e me disse que eu não precisava preocupar-me, porque ele ia deixar-me jogar à bola com ele, durante o recreio. Eu acenei afirmativamente, embora ainda não tivesse decidido o que queria fazer com o meu intervalo.
O Steve estava a passar pela fase de criança revoltada e, mal entrámos no edifício, voou para a sua sala sem sequer se despedir. Karter só se separou de mim quando a campainha tocou e o pai lhe deu ordens de ir para as aulas.
Ao princípio, tive medo. A mãe arrancara-me da cama com muito sacrifício e eu fiz uma birra porque não queria pentear o cabelo. Se não me tivesse dado o pequeno-almoço na boca, não teria comido nada. Estava entregue a uma horda de crianças desconhecidas...e se não gostassem de mim? E se a professora fosse má?
Não foi horrível. Pediram que me apresentasse, perguntaram-me o nome, o que gostava e não gostava, a minha cor favorita e o que queria ser quando fosse grande. Fiquei à frente do quadro, em silêncio, até a professora me dar licença para regressar à cadeira e nunca cheguei a dizer o que queria do futuro.
Hoje, com a perspectiva da adolescência, continuo a não saber o que quero ser quando crescer. Até ali, não considerara a ideia de que teria de mudar, transformar-me noutra coisa. Era uma criança inocente e achava que continuaria a sê-lo para sempre, protegida pelos meus irmãos, carregada para todo o lado pelos meus pais. E era tudo tão bom que não havia maneira de imaginar outro cenário.
Agora que continuo sem conseguir, mas que já não tenho acesso a nenhuma das partes que compôs a minha infância...que manual me dirá para onde ir? Tenho medo.
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