Realmente, entendo que possa ser desagradável estares à espera de uma carta e receberes outra, mas peço-te que compreendas que a minha intenção nunca foi interferir na tua correspondência, na verdade, não conhecia sequer a existência da mesma até uma desconhecida me abordar e me entregar o teu envelope para eu mesmo redigir a resposta. Desconfio que o processo de escolha tenha sido aleatório, ela entregou-me a mim porque eu era a pessoa mais próxima da floresta e, muito sinceramente, resolvi escrever-te pelas circunstâncias dúbias em que as tuas linhas se cruzaram com as minhas caso contrário duvido que não acabasse por esquecer o assunto...não me leves a mal, mas não é frequente encontrar jovens como a que me abordou no local onde me encontrava, muito menos com o toque de urgência que o seu tom de voz carregava. Digo-te isto, pois acho que era importante que eu comunicasse contigo, pelo menos, parecia ser esse o desejo dela.
Lamento que me julgues tão facilmente sem sequer me conheceres e lamento também que pareças acreditar que a liberdade se alcança de forma tão simples - tens mesmo a convicção de que estar preso implica somente a prisão física? Achei que não, tendo em conta a tua situação. Mas não te desejo o mal, longe de mim! Gostaria que pudesses desfrutar da neve tanto quanto eu desfruto, mas a minha vontade unicamente não chega para te conceder a oportunidade.
Como sabes que vivo? A maior parte das minhas vivências passa-se dentro da minha cabeça, é por isso que gosto de observar os outros, se fosse tão solto quanto julgas, não precisaria de parar para escrever, para pensar ou para ver. Teria o mundo a meus pés e estaria apenas importado com a forma mais material, mais veloz e mais...livre (?) de viver. A natureza humana é sempre interessante, especialmente quando sujeita a qualquer tipo de opressão, porque o homem tem apenas que contar com o seu instinto de sobrevivência e corresponde ao seu estado mais genuíno. Mas isto são conjecturas que eu faço, pois, ao contrário do que possas imaginar, não sou um experimentador tão grande assim que conheça cada fase de espírito de mim mesmo ou dos outros.
Se me tornar a cruzar com a rapariga ou se se der o caso de encontrar o próprio Rui, terei todo o gosto em transmitir a vossa mensagem. Mais uma vez, peço desculpa por me ter intrometido, mas caso não o fizesse, tu ficarias apenas sem resposta e a indagar o que acontecera. Não consegui negar o pedido da menina e deixar-te na dúvida, ainda que não aceites as minhas palavras como gostaria que aceitasses, penso que é sempre melhor do que deixar as coisas em aberto.
O prazer é todo meu.

Cumprimentos,
Sebastian Blackwood

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Vai cagar.
 
Ai, não posso.
 

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