Lamento imenso informar-te de que a pessoa a quem endereçaste a tua carta não a pôde receber ou, pelo menos, responder. As tuas linhas vieram parar às minhas mãos - e ainda bem -, por via de uma menina de cabelo apanhado, cor de mel, e olhos grandes; ela estendeu-me o envelope e disse que o Rui não estava em condições de escrever e o seu pai, o Coronel Gomes, creio eu, lhe entregara o manuscrito para o enviar a alguém. Não sei se a adorável jovem não conseguiu chegar a ti, Aileen, mas sei que ela me entregou o teu papel e me pediu que escrevesse em retorno, porque não achara ninguém mais próximo.
Gostava que me explicasses como funciona esta vossa correspondência. Sem querer parecer fantasioso, a tua amiga - ou amiga desse tal Rui - parecia...diferente de nós. Estou curioso acerca dos meios que vocês utilizam e como ela chegou até mim, mas, infelizmente, o tempo foi tremendamente escasso para lhe conseguir interrogar fosse o que fosse.
Tenho ainda mais pena pelo facto de me querer parecer que vocês combinavam um encontro; estou correcto? Por favor, peço que não me julgues inconveniente, mas estou apenas sequioso de conhecer o mundo destas pessoas que se cruzaram tão estranhamente comigo. As minhas condolências pela rapariga que morreu ou desapareceu, sobre a qual vocês falavam. Tenho que admitir que a morte é um mistério fascinante, mas não peço para a conhecer para já. A vida tem tantas coisas a experimentar e a descobrir que me custa perceber a tua forma de pensar.
Estou seriamente desanimado por te ter roubado a hipótese de uma visita. Haverá alguma forma de te recompensar? Talvez seja de mais oferecer-me para ir no lugar dele, mas visto que estás num asilo - segundo percebi -, não vejo que risco possas correr ao receber alguém que vá tão bem intencionado quanto eu, especialmente porque vais estar protegida. Se não for de muita indiscrição gostaria de saber porque foste internada.
Eu vivo em Londres, numa zona muito fria e com um tempo nevoso - o que deixa uma área muito extensa do espaço londrino à tua imaginação. Como é o tempo por aí? Tenho a confessar que adoro o gelo. A maior parte da minha vida é dedicada à pesquisa, gosto particularmente de definir objectos de estudo, de testar as minhas capacidades e de conhecer a natureza humana...e gosto de divagar, como podes perceber.
Sei que não será o mesmo, mas envia cumprimentos meus à tua colega Kath. Espero ouvir mais de ti.

Saudações,
Sebastian Blackwood


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