Não faz mal. Queres encontrar alguém que sinta o que tu sentes, ou pelo menos algo parecido...também era assim. Queria achar alguém que percebesse as coisas que eu sentia, quando achava que o meu corpo não me pertencia, que a minha cabeça era partilhada e que o mundo todo estava contra mim. Cheguei à conclusão de que a minha mente era remexida com uma facilidade incrível, como se eu tivesse uma porta aberta para toda a gente conseguir entrar e fazer o que bem lhe apetecesse ou como não tivesse sequer a porta. Tinha a sensação de que perdera o controlo sobre os meus pensamentos, de que a qualquer momento podiam ter acesso a eles e de que a minha privacidade não existia. Não gosto de escrever no presente, porque me faz sentir que é mais real e porque alimento a esperança de que tenha mudado.
Com o tempo vais acabar por melhorar, dependendo do teu caso, podes ter de tomar comprimidos por semana ou mesmo por mês e vais ter a independência para viver uma vida normal, sem te preocupares com medicação e cuidados a toda a hora, entendes? Mas não estou a dizer que ao início é fácil, claro que não. Na verdade, eu só estou assim porque me controlei mais com a passagem dos anos, mas mesmo assim não é leve e mesmo para responder a esta simples carta, eu tive de ter ajuda das enfermeiras. Sabes, às vezes uma mísera palavra pode levar todo o meu sistema a entrar em curto circuíto, é muito chato. Talvez esteja pior do que tu, até.
E quanto à tua mãe, ela vai acabar por reconhecer como fez a minha que, ao princípio, também fechava os olhos e batia o pé como se eu continuasse a ser o Al normal que ela conheceu. Fiquei muito revoltado quando soube a notícia, nem para mim foi fácil de aceitar e acho que realmente não pensei em ninguém naquela altura e me limitei a seguir a minha raiva. Tinha raiva de todos, dos meus pais, dos meus amigos, de Deus, de mim.
Também gostava de te visitar ou então que tu me visitasses. Acho que és muito simpática e uma pessoa muito querida, eu gosto de conhecer pessoas boas porque a maioria é cruel e não me faz sorrir. Não percebo porque é que há gente má.
Mas se eu sair daqui, eu vou ver-te, é uma promessa.

Beijinhos, 
Al

Etiquetas:

Comentários:
Então?
 
Hm.
 

Enviar um comentário