Era uma vez uma criança pequena que brincava às bonecas, no seu mundo do faz-de-conta-que-és-uma-barbie. Chegou a vizinha e perguntou: Lily, o que queres ser quando cresceres? Lily esticou os braçinhos para o céu num gesto de perguiça e não ponderou muito, antes de retorquir: quero ser empregada de balcão. A vizinha riu; empregada de balcão? Oh, que mente fértil, onde já se viu alguém ambicionar ser empregada de balcão? E tornou a perguntar: Mas Lily, qual é o teu sonho? E a Lily novamente respondeu que queria ser empregada de balcão. Aquilo não estava bem...as crianças devem sempre querer ser bombeiras, astronautas, médicas ou veterinárias. Depois crescem mais um pouco e, ainda crianças, preenchem atabalhoadamente uma folha e escolhem um curso como arquitectura, direito, educação... Por isso, a vizinha tornou ao ataque: Tontinha, não há cursos para empregadas de balcão. Não queres ir para a Universidade como o mano? Lily relembrou a cara entediada do mano que trazia sempre toneladas de papeis debaixo do braço, centenas de pastas nas mãos, olheiras cravadas até ao umbigo. E, portanto, foi muito lógico para si quando disse: Claro que não. Quero ser empregada de balcão. A vizinha torceu o nariz; criança não pode querer ser empregada de balcão, tem de pensar no dinheiro, na estabilidade, enfim, numa vida boa.
Lily concentrou-se novamente no jogo de bonecas, pensando para consigo que a barbie da mão direita era empregada de balcão - uma muito feliz, por sinal - e que a da esquerda limpava piscinas. Nenhuma delas frequentara a universidade, não ganhavam grandes quantidades monetárias, mas Lily tinha a certeza de que elas tinham...como se diz? Ah, uma vida boa.
Etiquetas: contos-de-fadas, futuro
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