Sou demasiado auto-destrutiva para me manter sóbria por muito tempo. Começava a estranhar a calmaria em que me encontrava mergulhada...a estabilidade amorosa (que para mim equivale à inexistência de qualquer actividade dentro desse campo), o lugar de melhor aluna, responsável mediadora dos conflitos e a amiga mais despercebida do grupo (quando tinha um) não encaixavam particularmente na imagem que formei de mim mesma. Mas, por outro lado, tenho vindo a pensar que a imagem que fiz de mim é uma imagem disforme que não podia ser de outra forma, pois como a voz que tu ouves não é a voz que eu te oiço, a imagem que tu me vês, naturalmente, não deve ser a mesma que eu vejo.
Não consigo cingir-me a um assunto, porque começo a divagar.
Continuando; estava eu nesse estado de semi-apatia, sem nada para fazer, exceptuando a rotina que se estabeleceu nem sei bem como...E depois utilizei-te como desculpa para retornar à mata onde cresci.
Não foste tu a arrastar-me para o sítio onde eu já pertencia. Eu caminhei pelos meus próprios pés e apenas me limitei a vendar os olhos para parecer que não sabia para onde me dirigia...A tristeza, a raiva e a confusão estavam cá dentro, escondidas num recanto.
Em primeiro lugar, não amadureci como fiz parecer a algumas (poucas) pessoas. Eu mudei porque fui obrigada a mudar, porque as circunstâncias me obrigaram a encolher como uma lesma, quando a pessoa lhe toca com a ponta do sapato provocador; e não houve realmente mudança - arrumou-se um boneco para se dar corda a outro.
Realmente, não me integrei por um momento sequer, tudo o que fiz foi tentar uma camuflagem. Como falei pouco aos desconhecidos, as pessoas tomaram-me por tímida e não perceberam o ódio que lhes tenho; como tenho cara de antipática, as pessoas tomaram-me por arrogante e não perceberam que era um ar triste e carregado de velha; utilizei da fala constante e da minha arte para contar piadas, assim ninguém me viu com olhos de pena; desculpei-me com a dúvida vocacional para ninguém perceber porque é que eu queria ir aos psicólogos; aprendi a usar da graça para evitar perguntas; encenei para mim mesma como se fosse muito estudiosa, para ter algo onde ocupar o tempo,... No geral, fui muito fácil de aturar, ninguém precisou de saber dos meus choros da meia-noite e evitei vampiros leitores de mentes que facilmente detectariam os momentos em que finjo ouvir a professora de geografia e idealizo o meu funeral.
Falei há pouco em circunstâncias - foram as circunstâncias que me levaram de volta ao pontinho negro e não o pobre do amor por um Arco-Íris. O amor ajudou (coisa estúpida que ajuda sempre a demência!), mas usei-o para ter algo que contar, caso se vissem as olheiras no meu rosto, as marcas das unhas nos meus braços, as ideias suicido-homicidas na minha cabeça.
Hm, não sei, continuo isto depois. Quero ir para Mountain Fall.


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Comentários:
isto está tão, tão bonitinho aqui.
 
Se fores leva-me contigo.
Isto está bonito.
 
Boa.
 
era preciso sim. sentia-me a tirar um pouco do que criaste, sei lá. enfim.
 
mantive o link que era do blog de histórias. achei-o demasiado genial para o apagar.
 

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