Sou, talvez, um conjunto de remendos agrafados uns aos outros- não cosidos, agrafados. Denomino-me e intitulo os meus pertences com nomes alheios, com expressões que não me pertencem, com influências do submundo e das coisas que não são minhas contemporâneas. Sou uma vontade sôfrega de absorver a cultura que, para mim, é maior, mais abrangente na sua forma de floresta escura que deixa escorrer luz através dos galhos.
I'm medicated, how are you? Dou-vos as boas-vindas à Boca do Inferno, ao sítio por onde saem os bichos do diabo, as coisas malignas que deviam permanecer encerradas num sarcófago. Quando abre os lábios, esse Inferno temeroso, antevê-se o Apocalipse e saltam porcarias de dentro dessa mesma boca, palavras conspurcadas para dentro de um mundo também ele conspurcado. No entanto, arrota largamente o Inferno e são tocados os sinos de chamada, é dado o recrutamento - todos os homens, mulheres e crianças, chamam eles. E forma-se o exército, derrama-se o sangue inocente, o sangue não tão inocente; fecham-se os dois lábios, cosem-se a sangue frio, fica encerrado o mal pela eternidade que pode demorar uma semana.
As almas que saem dos corpos escorregam esguias de dentro deles, esvoaçam pelo ar, pelo espaço não denominado, até entrarem na sala de cortina vermelha, depois de passarem a poça negra, pisando o chão de xadrez que os conduz até ao sofá.
Esta é a sala de espera. Gostaria de tomar um café? Alguns dos seus amigos estão aqui, diz-lhes o anão. E sentam-se na alcofa vermelha, com diabos a correr de um lado para o outro, quem sabe anjos a descer pelo ar...
Aqui, lado a lado, caminham as coisas divinas e as coisas baixas. Aqui mistura-se tudo numa conturbação frenética da mente que não sabe quem é, ou o que quer. Espero encontrar-me na luz, estender a mão à lança e guerrilhar até declarar vitória...mas serão sempre bem recebidos os que se perderam no meio da mata, sem culpa, sem a inocência que foi já roubada à força de uma dentada.
Etiquetas: desordem da personalidade, mata, nós aqui
Comentários:
Enviar um comentário