Escreveria sobre dias mais alegres, se os meus dedos não estivessem ainda sujos de carvão. Creio que não se apaguem as marcas de ti, nunca na totalidade, porque já nasceste para ser dono de gado; certificas-te de que seja inconfundível, de que não restem dúvidas ao colocar o olhar sobre mim. Passei pelas tuas mãos, o que está feito, feito está. Pois então, que o mundo todo saiba: passei pelas tuas mãos, o carvão não sai nunca.
Vês-me a lavá-las? É um bom ponto realmente. Não sinto que tenha-me esforçado para apagar... Dir-te-ia teres o domínio, como sempre, mas não seria necessário. Certas coisas são permanentes. E se é permanente como a gente prometeu, não tem razão para clamar domínio. Uma vez vira para sempre.
Eu preciso de dormir. Não haverá nem coerência e nem poesia. Ora, portanto, que fiques com o conhecimento de que continuo com os dedos negros de te tocar e que os levo à boca, contra a língua.

Boa noite.

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