Se tivesse um pouco mais de respeito por mim, não te escreveria nunca mais — sorte a tua que eu não me levo muito a sério.
Tu achas que é mentira, que me levo
demasiado a sério, que sou ridícula nas minhas tentativas de auto-afirmação. E, como sempre, és dono da razão. Não vale auto-afirmar-me, enquanto morro em estremecimentos febris por ti — não vale querer afirmar-me se te procuro constantemente e se tu és tudo aquilo a que se pode chamar
anulação.
A verdade é que gosto de me anular em frases e palavras e cartas intermináveis de um livro que nunca será escrito. Gosto de me rebaixar, de esperar inutilmente, de sentir a falta de ar e as lágrimas e todas as coisas ruins que te perseguem — mas elas não te perseguem, pois não? Antes, elas são as consequências dos teus actos, o teu talento obscuro, as tuas criações mais estimadas.
Crias dor como um artista cria formas a partir do barro. És criador e artista, enquanto eu sou o barro — inútil e deformado, até que me coloques as mãos em cima.
Etiquetas: ashtray heart, desordem da personalidade, ken
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