Vazio.
Procuro na cama, a almofada ainda tem o formato da tua cabeça e os lençóis ainda cheiram a ti. Mas não deixa de estar vazia.
Ergo o tronco e encaro-me no espelho. Vazio. Sem ti, não há reflexo (eu não existo fora de ti).
Tremo, choro, sofro. Durante horas, tive o consolo do teu corpo, mas ele abandonou o meu muito depressa e adivinha o que ficou no lugar? É engraçado tentar definir uma ausência, o espaço que não é ocupado - o vazio.
Mas eu penso em ti e penso nos teus olhos - vazios -, nas tuas mãos - tão cheias de mim.
Acerta-me de novo, peço nos meus joelhos. E, de cima, tu continuas a ter tanta pontaria como antes.
Desces ao meu nível, seguras-me na nuca pelo cabelo. As palavras saem dos meus lábios primeiro "tem de ser segredo". O problema dos segredos é que eles enchem as pessoas e eu não nasci para estar cheia.
Acerta de novo e talvez eu esvazie de vez.
Foram tão poucas horas - sempre são - e eu fico vazia no final. Estendida na cama, tão preenchida, tão terna, a focar o tecto de respiração acelerada. Murmurei o teu nome...quatro vezes? Penso que sim. E tu ofereceste-me apenas um toque ligeiro - vazio.

(submeto-me sem restrições ao buraco no meu peito, aquele que nem tu consegues tapar. e, de vez em quando, penso adivinhar uma dose de ciúmes mesquinha da tua parte - ciúmes por haver algo no mundo que me deixe mais vazia do que tu.)


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