Pensava para si mesma como nunca seria distinta e, enquanto o fazia, os seus olhos absorviam a maravilha alheia. Essa maravilha rodava por todos, mas nunca chegava a sua vez e ela continuava a ser igual a toda a gente. Tão igual que doía - doía nas riscas finas e horizontais dos seus pulsos.
Enfim, todas as raparigas que passavam pela sua escrutinação eram pedaços puros de diferença. Ser diferente parecia-lhe infinitamente extraordinário, porque ela era só mais uma, semelhante ao seu vizinho. Nada em si ressaltava como o penteado selvagem ou a maquilhagem atrevida daquelas que desfilavam nas fotos.
Lindas, todas elas, de cabelo cacheado e risco negro nas pálpebras. Esticavam a boquinha num beijo aéreo e piscavam as longas pestanas, sob luzes faiscantes. Dançavam soltas, com roupas soltas e sorrisos soltos. Decoravam a cabeça com flores e seguravam a guitarra nas mãos, não sem antes beber do néctar transcendente da vida.
Uma a seguir à outra, formavam uma fileira de mulheres fantásticas e únicas, terrivelmente diferentes de si.

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