Não sei se é o melhor sexo, mas é o mais reconfortante. O sexo em estado de tristeza, digo. De desespero, aliás.
Quanto maior for a dor, melhor. É que de repente não há tempo para esconder nada, nem para manter reservas. Se bem que no sexo nunca devem haver reservas, contando que o parceiro ou parceiros tenha dado consentimento. A partir daí, meu amigo, não peças autorização, nem desculpa por teres entrado. Mas agradece no final.
Estás a chorar, sabes, mas depois já tens braços em torno de ti. Ao início és só um par de braços abraçado a um torso que treme, mas depois vem outro par e tu tens um pouco mais de equilíbrio. É bom que ambos tentem suster-se, mas acabem por cair na mesma. Na cama, de preferência - ou sei lá, as minhas preferências são só as minhas preferências.
Como estava a dizer, há lágrimas nos olhos de um ou de ambos. Subitamente, há lágrimas a escorrer para a boca, a infiltrarem-se entre as línguas que se esmagam uma à outra. Há uma pequena contrariedade ao princípio, uma certa agressividade conforme o temperamento dos participantes. O que acontece é que queima tudo muito rápido, então a agressividade vai pelo cano, os olhos fecham-se e a cabeça pende para trás, satisfeita por não pensar mais.
É bom fazer sexo na tristeza, especialmente quando a tristeza se mistura com a raiva. Dá-se um acréscimo à vontade de unir dois indivíduos distintos, então, transforma-se numa luta e tem mais intensidade porque se alia o desespero ao desejo. Não é só tesão, não; é a força esmagadora da solidão a tentar parar a queda ou a tentar cair mais rápido. Fazer desaparecer a dor ou sucumbir a outra dor diferente.
Toda a ânsia de não estar sozinho e de não estar triste invalida delicadezas, faz os corpos chocarem como que a demolir-se. Termina tudo numa ruína satisfatória.
Etiquetas: ashtray heart, ken
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