Queria despejar todo o conteúdo pela boca, vomitar o meu coração. Queria cortar a ponta dos dedos, sangrar para as palavras, mas ao invés engulo saliva junto com lágrimas e calo-me. Calo-me sempre, por isso, talvez dê a sensação de que não estou a sofrer.
Queria chamar alguém para o meu lado e confessar todos os pecados que me assolam a alma. Tenho este fogo dentro de mim, em lume brando para demorar mais tempo a derreter os órgãos. Sinto a mão que se fecha em torno das vias respiratórias e a minha pulsação são tambores que anunciam o fim. Sigo numa marcha funerária que foi criada para mim e por mim mesma, mas ninguém pode visitar a minha campa porque não deixo.
De qualquer forma, qual o interesse de meter os pés no cemitério? Eu não estou lá e, se parte de mim ficou a vaguear cá em baixo, eu escolhi certamente um sítio melhor. Mas depois, sei lá, se calhar até estou no cemitério. Só não estou deitada debaixo da terra à espera de luzinhas, isso é que não.
Parei e perdi-me no que ia dizer. Acho que no fundo só queria dizer que te amo, mesmo não podendo amar-te e que continuo a procurar-te noutras pessoas, mesmo não podendo encontrar-te. Tenho a loucura aos gritos na minha cabeça, fá-la parar.


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