É um ciclo vicioso e eu tenho consciência disso, mas eu sei sobre o que quero escrever e não o faço por ter medo da escrita não corresponder ao pensamento. Tenho grandes ideias, mas receio que o meu escadote seja curto demais para permitir que eu chegue lá acima.
Quando comecei a escrever a Academia, eu tinha todas as oportunidades do mundo para escrever sobre um romance, ou mesmo sobre um romance proibido. Na verdade, eu podia ter escolhido esse tema e criado uma plot com a maior das facilidades. Tive imensa dificuldade em arranjar um enredo, portanto, o lógico seria pegar nas linhas mais óbvias e cruzá-las simplesmente.
No entanto, eu não queria escrever um livro sobre amor. O amor poderia acontecer, mas não seria o centro da história e, caso não surgisse naturalmente, não seria eu a forçá-lo. Corrigindo: o meu objectivo não era abordar o amor romântico.
Ao invés, eu preferi escolher o amor familiar como fundamento de toda a jornada. Quis que a amizade fosse uma ferramenta para que aquela galeria de personagens conseguisse ter um senso de "casa"; quis que a razão para que continuassem a lutar fosse o amor incondicional que nutriam pelas suas famílias, fossem elas biológicas ou não. O livro todo é sobre laços e eu apenas coloquei esse tema num cenário fantástico, onde as leis do mundo real não se aplicam na totalidade.
Então, é por isso que tenho medo. Não fiz pontaria para acertar numa grande plot, cheia de acção e aventura; a minha mensagem não é sobre a salvação do mundo, mas antes sobre a salvação do
mundo pessoal de cada um dos protagonistas. E eles estavam lá uns para os outros, porque eu precisava que eles tivessem sempre onde pousar a cabeça, mesmo quando o colo dos pais não era opção. A amizade tomava um papel essencial nessa parte, pois era o que sobraria caso tudo o resto fosse pelos ares.
Um dos meus maiores problemas é a natureza dos meus meninos. Com algumas excepções, a maioria não se encontra disposta a formar laços novos com alguém, já que estão demasiado ocupados a tentar recuperar os antigos. De qualquer forma, a luta para voltar ao lar não lhes dá grande margem para criar relações.
O meu desejo era juntar estas pessoas - que estão bastante próximas de serem pessoas, para mim - e criar uma família para aqueles que não sabem exactamente como se realiza tal proeza. Quis misturar gente bem-disposta e generosa com gente que nunca soube o que significa estender a mão a alguém.
Achei importante transmitir a mensagem de que um homem e uma mulher podem relacionar-se sem acabarem por apaixonar-se. Achei importante transmitir a mensagem de que o amor romântico não tem de ser complicado para ser bonito. E, sim, quis mergulhar as minhas personagens em águas desconhecidas, arrastá-las para um mundo que não chega a ser de dystopia, mas que não poderia ser ideal.
Concluindo, as ideias estão todas aqui. Metáforas, simbolismos. A adolescência e aquele sentimento estranho quando percebemos que já não cabemos no colo da nossa mãe e queremos ser independentes, mas, ao mesmo tempo, não queremos afastar-nos muito do ninho. Sei lá, se calhar não quis dizer coisa nenhuma.
Muito bem, vou parar de lamuriar-me e de sofrer por antecipação...vou antes escrever. Não se pode avaliar uma página em branco, certo?
Etiquetas: academia de heróis, contos-de-fadas, crenças, nanowrimo
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