Eu tracei este pequeno plano para mim...Escolhi o dia; escolhi que fosse à noite, porque a lua é bonita e o ar cheira bem; decidi que tenho de ter a janela aberta para deixar entrar as correntes do ar e o perfume dos pinheiros; escolhi um vestido preto muito simples, com algumas rendas, umas meias pequeninas e as sapatilhas que sempre uso; escolhi que não devo parecer gasta, devo parecer feliz ou, pelo menos, calma e decidi que vou dormir no dia anterior para não ficar com olheiras; não vou sentir falta da cidade, nem das pessoas, nem de nada, então quero apenas dar uma volta pelos campos das margaridas que são alegres e pacíficos como num postal; quero ver o sol antes de ir; quero deixar muito bem explicado que ninguém fez nada, que eu desejei e arquitectei isto para mim, que não tenho dor, nem solidão, nem nada, enquanto escrevo esta carta e não terei, enquanto escrever outras. Quando eu partir, quero que o sol nasça da mesma forma, porque sei que o sol vai nascer da mesma forma. 
Mãe, pai, levem-me margaridas e vão àquela praia onde fomos quando eu era pequena, onde o mar é a imagem de um filme. Quero que tudo seja igual, quero que tudo seja melhor, quero que a consciência cesse e os pés deixem de doer, quero ser feliz.
Oh, o quão corajosa vou ser! E livre como um pássaro, livre para além do universo, livre na concepção inteira e real da palavra "liberdade". Saibam que vos amo muito, que sou serena e esperançosa neste exacto segundo e que quero ir. 

Um beijo,
Eu

Etiquetas:

Comentários:

Enviar um comentário