Isto da adolescência é uma carrinha em segunda mão e de pneus furados, porque, basicamente, o veículo aguenta-se com peças que não lhe pertencem, que não encaixam totalmente entre si, viaja por estradas penosas, sob o sol que lhe torra o capô, vê-se perto da meta e a ficar sem gasolina... para adicionar a estas maravilhas, tem ainda que passar por revisões de todo tipo - e ai da carrinha que chumbe nalguma delas!
Todo este percurso para quê? Para ser estacionada num ferro-velho, quando for altura do adolescente crescer e deixar para trás o corpo errado e em segunda mão. Ou assim se espera. Mas antes disto, a carrinha da adolescência tem de se decidir por uma estrada, sendo que todas parecem compridas demais e praticamente inacessíveis. Uma vez que a carrinha entre na faixa, não há possibilidade de inversão de marcha, a menos que, quando se é já adulto e se conduz um carro ligeiramente mais bem preparado para as estradas da vida, se volte atrás - contudo, não será a mesma pessoa que retorna, nunca será a carrinha desfeita da adolescência, pois essa, a horas tais, foi já desmontada em peças que seguiram para venda.
Por isso é que tenho saudades de ser uma criança pequena e analfabeta, altura em que a vida é uma bicicleta com rodinhas laterais de protecção.
Etiquetas: futuro, passado
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