Sinto falta do tempo em que as palavras fluíam facilmente, em que bastava estender a vista pelo espaço em branco para começar imediatamente a manchá-lo de letras. Mas também sinto falta da época inexistente, quer dizer, quando estou longe da mesma...porque por alguns segundos eu consigo realmente acreditar que faço parte dela, seja enquanto durmo e deambulo, seja enquanto me coloco inevitavelmente num cenário fictício. Por isso, eu vivo através do intangível, do irreal, do inconsciente, mas é esse mundo que me pertence, ou ao qual pertenço mais.
Para além do imaginário, o meu perímetro é delimitado como o de um peixe num aquário e eu não sei viver nele, não me adequo, então, sigo muito naturalmente a rotina - habito o real pela necessidade lógica e aguento-o, sem pensar muito nisso, até à altura do dia, ou do fio de pensamento frágil, em que posso sentir-me ambientada, eu mesma, creio que equiparada àquilo a que se chama "feliz", mas cujo normal conceito não é o mesmo que o meu. Assim, estou no mesmo espaço que os outros seres humanos, caminhando em linha paralela, mesmo ao lado, mas não exactamente junto deles...e quando eles se afastam para as suas zonas de felicidade palpável, eu afasto-me para a minha que é, no entanto, situada no abstracto.
Etiquetas: crenças, desordem da personalidade
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