Não teria coragem para pôr fim à vida, mas por vezes pergunto-me sobre o sentido da mesma. A minha professora de Geografia dizia-me sabiamente que as rotinas são benignas e eu mostrava-lhe um olhar muito inexpressivo, pensava para mim mesma que ela estava errada ao quadrado, mas não abria a boca porque não adiantava discutir.
No final, é isso que levamos da vida: rotinas. Seguimos uma rotina desde que nascemos, até que morremos. Levamos o dia a cabo, dizendo a nós mesmos que no dia seguinte recompensaremos as perdas do hoje, mas os dias acabam por arrastar-se e formam semanas que formam meses que formam anos.
Não teria coragem para pôr fim à vida, mas qual foi exactamente a finalidade de ganhar uma? Posso seguir a estatística e saber que a probabilidade me diz que devo fazer ouvidos moucos, pois são só mais dois anos com as crianças e depois sigo o meu rumo…mas e se houverem crianças no outro sítio? E se eu suportar 12 anos só para ter morte súbita no 13º? E se a promessa de uma carreira promissora for falsa, ou se a carreira promissora não me bastar?
Por mais que use a lógica para aguentar pelo dia e sonhar com um amanhã melhor, eu estou no hoje e o hoje é uma merda. Posso refugiar-me o mais que quiser na imaginação e enumerar mil motivos para me sentir melhor que os outros, mas o corpo é mais coração que cabeça e isso não serve para nada.
As frases feitas que dizemos aos depressivos são tretas moralistas que visam levar a cabo um ponto de vista, são retórica (que se preocupa em fazer passar a opinião defendida), não são filosofia (que procura a verdade).
Não, eu não tenho a certeza se tu deves baixar a arma ou deitar fora a lâmina, porque não tenho a certeza em relação a mim mesma, quanto mais aos de fora. Não quero com isto incentivar ninguém a magoar-se, ou a tentar fazer valer a ideia de que a vida não tem valor. O que quero dizer é que apenas adiamos o inevitável, escondidos em rotinas que nos tapam os olhos para a realidade, mantendo esperanças que não sabemos se são concretizáveis.
Não levem muito a peito o que digo, amanhã tenho teste intermédio de filosofia.


se eu fosse leitora, andava com medo. pareço cada vez mais uma das pessoas daqueles cultos marados...

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Comentários:
"o corpo é mais coração que cabeça e isso não serve para nada." ohh, arrepiei-me.
Se estivesse no sapo favoritava.
 
o intermédio de fil deixou-te muito filosófica. eu cá adorei.
 

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