Claro que queria que me ouvisses, mas agora é tarde e eu
tenho sono. Tenho vontade de fugir da vida que conhecemos, de tomar o chá da tarde
e refugiar-me nas horas em branco, mas não podemos ficar e eu sei disso tão bem
como tu.
Gastámos tudo o que tínhamos para gastar e ainda fomos
penhorar todos os nossos bens para gastar mais. Doámos os sentidos à noite,
experimentámos tanto que ficámos cansados antes da nossa altura e não sobrou
nada.
Sou apenas um fiasco, sou um farrapo de pano sujo, sou
aquele bocado de mar que guardámos num frasco quando fomos àquela praia bonita.
Tenho um búzio encostado ao ouvido e oiço aquilo que ouvirias se encostasses a
orelha ao meu peito: brisa, o vazio, o infinito - como queiras, a audição é
tua.
Sujei-me de tinta com as tuas mãos porque as tuas mãos
passaram por todo o meu corpo e cravaram as unhas no meu sangue. Estamos
desenhados, somos obras de arte, somos mendigos, somos doentes, somos génios,
somos malvados, somos bentos.
Beija-me os lábios antes que eles me levem. Faz-se escuro,
tenho de ir. Deixa o relógio em cima da mesa.
Boa noite.
não contem a ninguém, mas tenho medo da maioria das imagens dos santos. estou a falar a sério.
nem sabem a genialidade que eu descobri!
Etiquetas: crenças, fictício
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