Julguei que fosses vento a bater na minha janela - um vendaval de eriçar o pelo aos gatos -, mas és apenas pedras da calçada
(e faze-la estremecer sobre os pés, embora teus passos sempre sejam tão leves).
Julguei que fosses fogo a queimar o forno que não é meu - nem teu, mas tu nunca te preocupas com sermões que não sejam para ti -, eras um fósforo para acender gentilmente o cigarro entre meus lábios
(e estava escuro, tu riste, disseste que eu ia matar-me a começar pelos pulmões).
Julguei que fosses o mar a chocalhar meus tornozelos, mas és apenas tempestade - num copo de água
(e disseste-me que antes de arruinar o corpo, eu tinha de aproveitá-lo).
És imperceptível à escala mundial, mas seguras o meu mundo em mãos. Sempre tanto, tão pouco - as pessoas olham-te no rosto e acreditam que sejas um anjo.
És o exagero de uma noite de verão
(e eu já nem tenho cigarros no maço, somente um isqueiro alheio para iluminar o caminho).

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