Às vezes acho que não quero absolutamente nada e que estou a tentar matar-me lentamente. Privo-me disto e daquilo para sentir-me afundar, gozo da dor com o prazer de um masoquista e não acho sentido nas coisas que me rodeiam. Sinto-me deprimida e deprimente, sem vontades nem desejos de força maior. Não sei se quero ir para a esquerda ou para a direita, não sei se quero ficar acordada para sempre ou dormir durante cinco anos seguidos. Sinto um vazio, desponta-me a consciência aguda de que tudo isto é uma encenação e eu só quero deitar-me no chão dos camarins. Não sei se quem sou lá fora é a mesma pessoa que sou aqui dentro e sinto-me pessoal nas palavras, mas as palavras vivem no papel. Não quero ser um ser humano, quero ser mais, quero perpetuar-me pelo espaço e tempo, sem as necessidades fúteis que o actual estatuto acarreta. Não quero ver ninguém, quero aninhar-me nas brasas. Não quero ir à rua, quero fazer daqui a minha casa. Quero que me leiam, mas não quero escrever. Quero fugir daqui para o mundo das ideias.


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