Até ao osso, passando pelo controlo da minha mente, pelo domínio das batidas cardíacas, pelo ar preso nos pulmões, pelo sangue que corre quente e lastimável pelas veias. Sempre lá, em cada segundo, em cada instante vazio ou preenchido, nos bons e nos maus, em todos os momentos como uma sombra mais colada a mim que aquela outra sombra primeira. Doentio e doente, não tão doente quando eu ou a causa da doença em si que me faz correr e abraçar a canseira.
Dormimos nos mesmos lençóis e o suor escorrega-nos da testa para uma poça comum. Ardes em brasa para cima da minha pele e eu ardo também, porque a dor mantém-me viva. Há silêncio nas nossas palavras, mas elas saem frenéticas da nossa boca, elevam-se no ar como pequenas nuvens de fumo e enrolam-se entre si como se o nosso discurso fosse somente um. Os teus dedos fundem-se aos meus e arrepelam-me o cabelo, arranham-se as coxas, passeiam pelos meus olhos que se abrem com lágrimas para ti.
E tudo em ti é negro como a noite. És para sempre um gato pardo a morder em mim e sugas-me a alma através de pequenos furos no meu peito. Cais sobre mim e eu amparo-te a queda com a minha figura desfeita, insatisfeita e imperfeita como tu.
Arrastamo-nos até à eternidade como dois parasitas que consomem a carne morta um do outro. Mas nada importa, porque tu és meu e eu sou tua, para o mal, só para o mal. Noutra vida fomos irmãos gémeos, pegados na barriga da mãe e viemos agora consumir o pecado comum, queimar, abanar, tresandar.
Nem eu, nem tu merecemos mais do que aquilo que temos.
Etiquetas: ashtray heart, desordem da personalidade, ken
Comentários:
Enviar um comentário