Deitar os dedos ao piano e sangrar. Não seria bom se todas as mágoas fossem embora com a maré? Sangrar seria o rebentar da onda que se estenderia até ao areal e, depois, recolher-se-ia de novo para o mar, levando consigo a dor.
Ou chorar; chorar com a precisão de quem sabe que os ouvidos são surdos e os olhos são cegos, chorar para ninguém escutar ou ver e ter toda a imensidão de um quarto branco a engolir-nos o sal. Poder chorar fora tudo o que conspurca o interior.
E no entanto, não sabemos tocar piano e não estamos sozinhos no quarto.


Etiquetas:

Comentários:

Enviar um comentário