Segurou a cabeça entre as mãos, gritando impropérios e gemendo as dores do seu corpo e mente instáveis. Levantando os olhos irados para os dela, ignorou a pontada causada pela imagem da rapariga a chorar; precisava de se alhear dos sentimentos - se era possível tê-los - e acusá-la de provocar a sua vida. Nunca pedira para nascer.
A jovem ergueu os dedos trémulos até à face e enxugou uma lágrima, filha mais nova da rajada de outras lágrimas que lhe escorriam pela pele.
- Não podia realmente achar alguém que me quisesse cá fora. Foi por isso que te trouxe ao mundo. - confessou, entre os soluços que lhe travavam a voz, por detrás do sorriso gasto e amargo.
Ele endireitou-se e aproximou-se dela, ignorando as dores que sentia. Talvez conseguisse uma anestesia.
- Foi egoísmo, paciência. Não sou a primeira humana a errar...na verdade, somos todos muito estúpidos, nesse aspecto. - continuou.
Naquele momento, o rapaz estava a forçar-se para não ouvir as palavras dela e a esquecer o sentimento de revolta. E podia revoltar-se? Não; não quando a via naquele estado e sabia que a sua solidão era tão grande que a tornava miserável. O simples facto de ele existir era a comprovação de que a vida dela era triste.
- Paciência. - repetiu, antes de a estreitar nos seus braços.
Não devia dar-se ao luxo de abraçar a sua criadora, a que o arrastara para um limbo que não era a realidade, nem a falta de existência...mas, ao tê-la tão perto, pensava "que se lixe" e fechava os olhos para as circunstâncias.
Etiquetas: desordem da personalidade
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