Por quantas vezes te segurei as mãos que sangravam, filho da mãe? E por quantas vezes enxuguei essas lágrimas que caíam dos olhos cor de mar? Com a minha própria roupa, enxuguei-tas com a minha própria roupa! E dei-te a mão, até as imagens se dissolverem no que seria a poeira da memória. No entanto, é com grande pesar que te digo adeus nesta linha do infinito a que chamaste vida.
Viemos ter ao cruzamento final, de mãos dadas, caras voltadas para a frente por não desejarmos mais bofetadas...mas o diabo estava em ti, o diabo estava em mim e não havia volta a dar. O cipreste diante das nossas caras deslavadas proporcionava o oxigénio de que precisavas para empunhar uma qualquer faca, uma qualquer lâmina ou pedaço de vidro. E cravaste na tua veia, na minha veia, seja o que for... - não vai tudo dar ao mesmo?
Quantas vezes te beijei os lábios, sabendo que era a última coisa a fazer? A ironia com que tomávamos o chá numa sala repleta de objectos putrefactos e sorríamos, sorríamos como se tivéssemos vontade, como se realmente possuíssemos a força do sarcasmo ou da arrogância nos nossos seres.
Filho de um homem que nasceu depois da morte...Cada fio de cabelo teu parecia molhado à luz da lua. Ou talvez estivesse realmente a escorrer a água de um ribeiro porque, sejamos sinceros, corremos tanto, passámos tantas noites por aí, desligámo-nos tanto que eu já não consigo distinguir o real do impossível.
Velho, velho lobo, não me deixes sozinha quando quiser fechar os olhos.


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Comentários:
Adoro.
 
ah, isto aqui lembro-me do outro blog. foi um dos posts que li.
 
delicio-me a ler os teus textos.
 

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