Tenho crises de ansiedade. Sinto falta de ar, fraqueza, desconforto geral, sinto-me perto da morte. Tenho de contar até duzentos, sempre a parar e a recomeçar, sempre a bater com a ponta do dedo gordinho nos outros, para acompanhar a contagem. E respirar fundo. Tenho de me concentrar noutras coisas como raciocínio lógico, ou algo que me afaste dos agoiros que me preenchem a mente. E depois recupero, continuo viva e nem é preciso que alguém repare no que aconteceu.
Uso a palavra “demasiado” demasiadas vezes. Não gosto que utilizem reticências para falar comigo e tenho um código muito meu. Não gosto de usar pontos de exclamação porque acho que me fazem parecer infantil e vulgar. Tenho uma obsessão com o ponto e vírgula e desenho uma bolinha na cabeça do i porque, acaso não o fizesse, continuaria a carregar no ponto até rasgar a folha. Quando escrevo, estou constantemente a olhar para as linhas de cima e mói-me o tamanho das letras que me parece sempre pequeno ou imperfeito demais. Não consigo escrever demasiado depressa porque preciso de aperfeiçoar as palavras. Tenho um problema com a pontuação.
Não gosto quando as outras pessoas tiram notas mais altas que as minhas. Tenho necessidade de exibir as minhas avaliações mais elevadas para toda a gente que conheço e sinto-me extasiada quando os outros têm resultados inferiores aos meus, especialmente se tiverem estudado mais.
Gosto de falar caro e de ser elogiada.
O meu tom de voz varia, dependendo das pessoas que me rodeiam. Não gosto de estar num sítio onde não conheça ninguém, mas adoro ser apresentada e, geralmente, as pessoas acabam por gostar de mim. Estou o tempo todo a fazer piadas, ou a encontrar motivos para fazer galhofa. Quando estou histérica, rio e tremo toda como se estivesse a ter um ataque. Falo alto e detesto que me mandem baixar o tom ou calar. Quando não gosto de uma pessoa, até posso fingir que a engulo, mas nunca chego a gostar mesmo dela. Adoro acolher pessoas no meu círculo e adoro que os outros saibam que ajudo muita gente. Tenho problemas de relacionamento com os humanos. Não sei como hei-de falar para um bebé. Gosto de me atirar aos professores.
Quando faço de homem, a minha voz muda completamente. Tremo toda antes de entrar em palco mas, já em cena, não consigo ver bem as caras do público, embora os foque sempre nos olhos. Não gosto de pessoas que não olham os outros directamente quando representam. Gosto de quando tenho de me sentar junto dos espectadores e olhá-los durante o resto do espectáculo, porque sei que isso os deixa desconfortáveis. Gosto de deixar os outros desconfortáveis.
Queria seguir a vida militar, mas tenho medo de morrer. Queria ser médica por causa das séries televisivas, mas não estou em ciências. Queria ser cantora, mas não consigo cantar em público. Queria ser actriz estrangeira, mas sou portuguesa. Queria ser escritora, mas não consigo escrever um livro. Queria ser pintora, mas não tenho grande paixão por pintura. Queria ser psicóloga criminal, mas não gosto de psicologia. O meu trabalho ideal era ser uma Slayer.
Tenho um ego enorme, sou vaidosa, nada modesta e estou extremamente corrompida, mas gostaria de ser uma heroína e dar mais aos outros do que a mim. Não conheço o meio-termo e sou tremendamente dramática. Acredito piamente que vou morrer, quando tenho algum problema de saúde, ou quando estou sozinha e me convenço que vou ser raptada. Os meus sonhos são muito intensos e recordo-me quase sempre deles. Tenho narradores a falarem na minha cabeça, quando estou a dormir. Sonhei que era presa num sanatório, fora de funcionamento, por um grupo de pessoas que só eu conseguia ver e, quando consegui fugir, ouviu-se a tal voz off a dizer “Também há problemas na Grande Lisboa” - isto a propósito dos vampiros que me apanharam mal pisei solo livre, e a fazer referência à minha querida Geografia.


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